O ônibus Vermelho
André era um menino muito sorridente e travesso, amava brincar com os amigos e correr pelos corredores. Tinha uma energia incrível e em nenhum momento parava.
Corria, corria como se não houvessem barreiras para o impedir. Na escola, André gostava de ouvir histórias, de brincar de massinha e de correr com os amigos pelo pátio na hora do recreio. Em alguns momentos André se atrapalhava com os movimentos do seu corpo e caia em cima de um ou outro amigo. Ele também gostava muito de pintar, mas os desenhos de André eram sempre os mesmos, sempre na mesma cor e da mesma forma.
André só desenhava um tal de ônibus vermelho, A professora contava a história dos três porquinhos e André desenhava o ônibus vermelho. A professora contava a história da árvore generosa e André só desenhava o ônibus vermelho. Na hora do desenho livre, ele desenhava o ônibus vermelho e também na hora de escrever o nome, de fazer a atividade, de pintar sobre o dia...
A professora começou a ficar preocupada com André, levou para sala de aula obras do artista Romero Britto, conversou sobre as cores, sobre as formas e espalhou giz pela mesa das crianças. Pediu para que criassem uma obra tão colorida e diferente quanto as do Romero, você já sabe o que o André desenhou né? Isso mesmo, um ônibus vermelho.
A ideia da professora não havia dado certo, pensou em outra estratégia:
- O que vocês acham de fazermos uma pintura bem colorida com tinta?
Nem preciso dizer o resultado dessa atividade, preciso? André pintou seu ônibus na cor vermelha.
A professora tirou a cor vermelha da frente do menino e ele correu, rodou, procurou, achou uma caneta vermelha e foi lá terminar seu desenho.
Já preocupada com o menino, a professora chamou os pais para conversarem, explicou que ele precisava de uma atividade além da escola, pois tinha muita energia, podia fazer uma natação ou judô. A mamãe do menino amou a ideia. Até que a professora relatou sobre o bendito ônibus vermelho, e ela ficou brava, fechou a cara e foi embora.
No outro dia de aula, na hora do desenho, André se recusou a desenhar, disse que a mamãe o havia proibido de desenhar o ônibus, a professora falou para ele fazer outro desenho, mas André se recusou e chorou. O que será que estava acontecendo com André?
Sem saber muito bem da história, a professora foi contar a história do João e o Pé de Feijão, quando terminou, André disse para a professora:
- Eu tenho um gigante lá em casa, um monstro gigaaaaante, desse tamanho assim .Abrindo os braços para a professora entender o tamanho do monstro. Então a professora perguntou:
- Mas seus pais já viram esse monstro?
-Não -sussurrou André- ele fica escondido embaixo da minha cama e só aparece quando o papai e a mamãe não estão. O monstro diz que é meu amigo e que eu não posso falar com ninguém sobre ele. Durante um tempão eu desenhei o ônibus vermelho para os bombeiros virem me salvar, mas acho que os bombeiros também têm medo do monstro. Tiiia, xiiiuuuuu, a senhora não pode contar pra ninguémm sobre o monstro, se não, ele vai me comeeer.
Dizendo isso, saiu correndo pela sala, brincando com os outros amigos.
A professora ficou pensando naquilo e no dia seguinte, levou para a escola um baú do tesouro e propôs as crianças:
-Esse baú é um lugar mágico, nele você joga todos os seus medos e problemas, fala umas palavrinhas mágicas e o medo desaparece. Quem quer jogar os medos aqui?
Todas as crianças começaram a falar:
-Eeeu, eu tia! Deixa eu.
-Então prestem atenção, quando eu abrir o baú, todos, de uma única vez, devem pegar o medo da cabeça e do coração gritando: “Medo, Medinho, Medão, você não manda em mim não" é jogá-lo dentro do baú, eu vou fechar esse medo e ele nunca mais vai voltar, quando eu falar já... 1,2,3 e já!
Todas as crianças jogaram seus medos dentro do baú, a professora trancou e levou embora. Depois de um tempinho, chamou André para conversar:
- André, você jogou seu medo no baú?
-Sim, tia. -respondeu o menino.
-Então, vamos aproveitar que o medo saiu e conversar com a mamãe e o papai sobre o que o monstro faz?
André aceitou a ideia e logo a professora tratou de chamar os pais dele para conversar.
Ele contou todo o seu medo e os pais entenderam que o monstro na verdade era o tio que ficava tomando conta dele quando os pais precisavam ir trabalhar e o famoso desenho do ônibus era uma tentativa de pedir ajuda.
Os pais pediram desculpas ao menino e entenderam que não se deve ignorar os desenhos de uma criança.
Comentários